Pesquisa inédita mostra que 50% das mulheres reclamam do descaso dos médicos em relação à dor
A pesquisa intitulada “Percepção do Atendimento Médico prestado às mulheres com dor crônica” foi realizada com um universo de 1.022 mulheres, de 18 a 78 anos (maior parte entre 40 e 60 anos), sendo que 86% sente dor há mais de seis meses; 62%, relata alta intensidade de dor, e quase um terço, 29,4%, sente dor intensa, sem ter essa condição “legitimada” pelo médico. O objetivo da pesquisa, além de conhecer a percepção que as pacientes com dor crônica têm do atendimento recebido por parte de médicos e de suas equipes, é o de chamar a atenção para um campo da medicina que só irá se expandir e aprofundar no futuro: o das desigualdades de gênero. “Mesmo a proporção feminina da população impactada pela dor crônica ser o dobro da masculina, as mulheres não são tão eficazmente bem atendidas quanto os homens”, afirma Julio Troncoso, criador do Dor Crônica – O Blog (https://dorcronica.blog.br), projeto filantrópico de educação em dor no Brasil -, responsável pela nova pesquisa, em parceria com a Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) e autorizada pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa.
As mulheres informam experimentar uma dor crônica mais intensa e duradoura do que os homens. Mesmo assim, estudos internacionais comprovam que são tratadas menos assertivamente, não recebem da saúde pública e privada o mesmo tratamento dado aos homens e que algumas padecem e até falecem em função disso.
As 84% das entrevistadas concordam com a afirmação: “Estaria melhor se eu recebesse apoio de uma equipe de saúde”. E mais de 60% avaliam que “a atenção da equipe médica ou de outras pessoas não afetam o resultado do meu tratamento”. Em suma, a equipe médica é vista como sendo ainda mais impermeável às queixas das pacientes que os médicos, mas isso não parece importar a maioria delas, seja porque não reconhecem nessa equipe uma entidade propriamente dita e/ou por supor que ela, mesmo existindo, carece de maior efeito terapêutico.
Outro dado interessante é que o nível de informação parece amenizar as críticas sobre a valorização das queixas de dor pelo médico. Pouco mais de 50% das mulheres, que se diz bem informadas, reclamam menos da valorização das suas queixas de dor pelo médico do que as que se dizem menos informadas. Outro resultado foi que quanto menos intensa a dor, proporcionalmente maior a reclamação de que queixas a ela relacionadas são pouco ou nada valorizadas pelo médico. A explicação seria de que se a dor for reportada como “leve”, é provável que seu apontamento seja mais difuso (ou confuso), tornando exame e diagnóstico menos rigorosos e urgentes.
“Esse estudo serve de argumento para chamar a atenção dos profissionais da saúde, especialmente os médicos, quanto a situação anômala do Brasil em relação as dores femininas. Nos países mais desenvolvidos há críticas crescentes quanto as queixas da mulher com dor crônica não serem devidamente valorizadas pelos médicos e, em vez disso, atribuídas à somatização”, completa Julio, pesquisador profissional, formado em Economia e Administração de Empresas e PhD em Comportamento pela Cornell University (EUA), que já lançou 10 livros digitais sobre o tema da dor feminina.
Quer conhecer mais sobre o estudo? Acesse o Blog Dor Crônica.