O mercado de canabidiol (CBD) foi regulamentado a partir de 2019 pela Anvisa no Brasil, e empresas que atuam nesse mercado, como a Aura Pharma, registram ano a ano um crescimento na prescrição de medicamentos com CBD e na adoção de tratamentos com essa substância por parte de pacientes.
O canabidiol é um componente não psicoativo da planta cannabis sativa, que tem sido usada por muitos anos como agente medicinal no alívio de dores e convulsões. Mas pesquisas recentes mostram que as ações terapêuticas do CBD vão além, incluem a capacidade de atuar como antiemético, agentes anti-inflamatórios e como agentes protetores na neurodegeneração, alívio da dor crônica, alívio de distúrbios do sono, da espasticidade, entre outros (Amin & Ali 2019; Villanueva, 2022).
Com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n˚ 327, de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) institui uma regulamentação para o uso de produtos derivados de cannabis para fins medicinais ou de saúde no Brasil. Essa normativa estabelece diretrizes para a fabricação, importação e comercialização desses produtos, visando garantir sua qualidade e segurança para os consumidores.
Um aspecto central desta regulamentação é a exigência de que empresas produtoras obtenham o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF) de medicamentos, outorgado pela própria Anvisa, que assegura que os procedimentos de produção aderem a elevados padrões de qualidade.
O mercado de canabidiol no Brasil
A partir de 2019, o mercado de canabidiol tem crescido ano a ano no Brasil. Segundo o anuário 2023 da Kaya Mind, empresa especializada em inteligência de mercado para o setor da cannabis e mercados afiliados, mais de mil empresas e associações já atuam no setor de cannabis medicinal no país.
De acordo com o anuário da Kaya Mind, o mercado de cannabis medicinal movimentou R$ 700 milhões em 2023, marcando um aumento de 92% em relação ao ano anterior. Esta tendência ascendente sugere que o segmento poderá superar o valor de R$ 1 bilhão em 2024. O crescimento expressivo reflete a maior adoção de tratamentos com CBD, evidenciada pelo fato de que, em 2023, cerca de 430 mil pessoas se beneficiaram de derivados medicinais da planta, um salto de 130% comparado ao ano anterior.
Rafael Bassetto, sócio-investidor da Aura Pharma, esclarece que esse aumento está intrinsecamente ligado ao interesse dos pacientes pelos benefícios do tratamento com canabidiol. “Os pacientes procuram os médicos solicitando serem tratados com canabidiol e, após uma avaliação cuidadosa das condições de cada um, os médicos especializados prescrevem o medicamento quando há uma indicação clara para o seu uso,” afirma Bassetto.
Houve um crescimento tanto no número de pacientes que usam medicamentos à base de canabidiol quanto no de médicos que os prescrevem. Guilherme Jabur, CEO da Aura Pharma, aponta que, em 2019, somente 15 a 20 médicos prescreviam canabidiol, referindo-se aos medicamentos disponíveis em farmácias. Segundo o executivo, “esses médicos começaram a ter uma visibilidade muito grande com a eficácia nos tratamentos. A partir de 2020 e 2021, os médicos começaram a se capacitar e aumentar a curva de prescritores de canabidiol. Em 2021, eram cerca de 1,5 mil médicos, em 2022 chegou a quase 3 mil, e em 2023 e 2024 percebemos uma evolução para 9 mil médicos prescrevendo canabidiol comercializado em farmácias”.
As vendas de produtos de cannabis medicinal também saltaram nas farmácias, segundo dados da Associação Brasileiras da Indústria de Canabinoides (Br Cann). Apenas no primeiro semestre de 2023, foram comercializadas 193 mil unidades de medicamentos com CBD — um aumento de 201% em comparação com o mesmo período de 2022.
Desafios e oportunidades do mercado de CBD
Apesar de a Anvisa ter regulamentado o uso medicinal do canabidiol no Brasil em 2019, permitindo sua comercialização sob prescrição médica, o mercado de cannabis medicinal ainda enfrenta desafios significativos. Os altos custos e a limitada variedade de produtos disponíveis refletem a complexidade e as restrições regulatórias do setor.
O anuário da Kaya Mind analisa que, apesar das incertezas e desafios enfrentados, há um evidente e crescente interesse da população pelas terapias com derivados de cannabis. “Mesmo diante de adversidades, percebe-se um engajamento significativo da população, que busca suporte e alívio nas terapias baseadas em cannabis,” destaca o relatório da empresa especializada no segmento.
No Brasil, tramita ainda no Supremo Tribunal Federal (STJ) a possibilidade da concessão de autorização sanitária para cultivo de cânhamo industrial. De acordo com o relatório “Commodities at a Glance — Special Issue on Industrial Hemp”, da UNCTAD, o plantio do cânhamo — pertencente à mesma família botânica da cannabis — oferece outras oportunidades econômicas para países em desenvolvimento. Segundo o documento, o cânhamo tem a vantagem de crescer com facilidade em diferentes climas ao redor do mundo e também ajuda a reconstituir o solo com sua capacidade de remover metais pesados e outros contaminantes.
O relatório indica que o cultivo de cânhamo pode fomentar cadeias de produção sustentáveis em países em desenvolvimento, impulsionando a economia rural e a diversificação. Suas fibras são usadas em tecidos e construção, e suas sementes na alimentação humana e animal, com potencial para biocombustíveis e plásticos biodegradáveis. Segundo a Kaya Mind, uma regulamentação abrangente poderia criar 330 mil empregos no Brasil e gerar R$ 26 bilhões em quatro anos, promovendo uma economia verde.
Nesse cenário, a Aura Pharma vê o potencial de crescimento do mercado para os próximos anos. “A gente entende por esses princípios que o mercado começa a crescer e tem uma curva ainda maior para 2024 e bem expressiva para 2025”, finaliza o CEO da empresa, Guilherme Jabur.