O aumento do endividamento da população levanta um debate sobre a necessidade de uma melhor educação financeira da sociedade. A mais recente Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou que, em fevereiro de 2023, o Brasil atingiu a marca de 73,3% de famílias endividadas, além de 29,8% com contas em atraso e outros 11,6% que admitiram não ter condições de quitar as dívidas. Os números voltaram a crescer depois de uma queda de dois meses de quedas.
Por outro lado, existe uma grande demanda por educação e formação relacionada à gestão das finanças pessoais. A edição 2022 do Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com o Banco Central (BC), aponta que, de uma amostra de 4.797 adultos bancarizados entrevistados entre janeiro e março de 2022, 45,6% disseram saber se informar para tomar decisões financeiras, o que representa uma queda de 3,9 pontos percentuais em relação ao I-SFB 2020. E outros 30,6% se sentiram capazes de reconhecer um bom investimento (3,5 pontos a menos que no estudo anterior.
Muitos especialistas apontam que a infância é o melhor momento para introduzir uma melhor educação e conscientização financeira nas pessoas. É nessa fase que elas aprendem a ler, escrever, fazer contas e assimilar hábitos que levarão pelo resto da vida. O economista e professor Edgard Leonardo Meira, do Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco), defende que as crianças devem participar das finanças familiares na medida de sua compreensão, desde a mais tenra idade. “Quando estamos em família, todos gastam recursos, então, isso deve ser discutido entre todos, inclusive crianças e jovens”, explica.
Fazer com que a criança tenha noções de finanças e investimentos, além da criação de uma boa relação com o dinheiro, fará com que ela se torne um adulto que se planeja, tenha finanças organizadas, trace metas e possua uma boa qualidade de vida. Falar sobre poupar, investir, itens necessários e supérfluos, o valor do trabalho e outros.
“Estaremos ensinando a criança a postergar um prazer imediato por um prazer futuro. Por exemplo, às vezes ela quer um videogame ou bicicleta e, você, ensinando e explicando de forma saudável, mostra que, ao longo da vida, nem sempre será possível ter tudo o que quer, na hora que quer. Assim, a criança vai entender o valor das coisas e que, em determinados momentos, ela precisará de algum esforço ou abrir mão de prazeres momentâneos para que, depois, alcance o que deseja”, comenta Edgard.
Ainda de acordo com o economista, é possível introduzir responsabilidades de acordo com a idade da criança. Por exemplo, com sete anos, ela recebe um determinado valor durante um passeio para que tenha a liberdade de comprar algo que não ultrapasse o que tem em mãos. Assim como, ao passar do tempo, com 10 anos, ela pode receber uma mesada para comprar coisas que deseja ou juntar, com 12 anos receber um cartão pré-pago pelos pais para comprar lanches na cantina da escola ou utilizar em passeios, sempre com acompanhamentos semanais.
Trabalhando o tema na escola
A educação econômica e financeira foi introduzida em 2020 na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação (MEC), passando a ser ensinada nos ensinos infantil e fundamental. Ela propõe que temas como finanças, taxas de juros, inflação, aplicações financeiras e consumo consciente sejam trabalhados nos currículos da educação básica, com a finalidade de conscientizar e formar adultos que possuam uma relação com dinheiro de forma saudável.
“A ideia é que esses temas sejam gradualmente colocados para os estudantes em situações específicas em que eles entendam como usar e qual a importância do dinheiro, além de saberem que é importante poupar. Assim vai ser criando uma consciência financeira desde pequeno”, afirma o professor Luís Carlos Beltrami, pró-reitor de Marketing, Vendas e Relacionamento da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe).
Uma população mais consciente faz escolhas econômicas melhores, ou seja, gere o próprio dinheiro com o objetivo de conseguir poupar para que as economias possam ser usadas futuramente. A partir do momento que você conhece algo novo e começa a lidar com aquilo quase que diariamente, se transforma em algo comum. No futuro, essas crianças conseguirão gerenciar melhor suas próprias finanças”, conclui Beltrami, ressaltando que ainda não há resultados efetivos da introdução do assunto na BNCC, pelo fato de ela ser recente, mas estes ganhos serão mais sentidos nas próximas décadas.