Anúncio de um número maior de vagas afirmativas, de mais iniciativas de aceleração e desenvolvimento de lideranças femininas e profissionais negros, além da profissionalização dos profissionais de diversidade, equidade e inclusão (DE&I), a busca por reconhecimento das iniciativas de DE&I e o avanço no debate geracional.
Na avaliação da consultora de DE&I Letícia Rodrigues, mestre pela FGV-Eaesp e sócia-fundadora da Tree Diversidade, estas serão as principais tendências da área em 2023, que vem se desenvolvendo na esteira do debate sobre o chamado ESG, sigla que reúne as iniciativas corporativas voltadas ao meio ambiente, à sociedade e à governança.
Rodrigues conduziu a primeira mentoria aberta e gratuita promovida este ano pela Tree Diversidade, consultoria que promove o desenvolvimento de culturas organizacionais e de pessoas mais diversas e inclusivas. Nos próximos meses, novas mentorias deverão ser transmitidas pelo Zoom e Youtube, sempre com o objetivo de fomentar e sustentar projetos de diversidade em organizações por todo o país.
Letícia Rodrigues afirma que, atualmente, menos de 40% dos cargos de gerência no Brasil são ocupados por mulheres, segundo dados do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) e que o salário masculino ainda é 21% mais alto no comparativo com o feminino, sendo que elas representam a maioria (52%) da população.
Além disso, o Brasil tem 12,7 milhões de pessoas com deficiência, quase 7% da população, mas apenas 0,9% estão ativas no mercado. Menos de 3% das mulheres e dos homens negros irão alcançar algum cargo de gerência. E, segundo a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, somente 13% das travestis e 24% das pessoas transexuais declararam possuir emprego formal.
“Estes dados são apenas um recorte reforçando que ainda temos um longo caminho a percorrer quando falamos em equidade ou num ambiente de trabalho que espelha a sociedade real. As tendências em DE&I para 2023 já estão sendo adotadas há alguns anos por empresas com algum grau de responsabilidade social e que se importam com posições laborais mais justas para todas as pessoas”, comenta.
Sobre as tendências, ela frisa que há pouco tempo as vagas afirmativas foram legalmente questionadas, ou seja, houve polêmica em torno das empresas que destinaram determinadas posições para grupos específicos de pessoas.
“Judicialmente, ajudou muito e foi uma vitória para quem trabalha na nossa área a constitucionalidade das vagas afirmativas, porque somente por meio elas as pessoas que mais precisam terão chances de seguir adiante no afunilamento dos processos seletivos, sendo incluídas, estando de fato nas short lists para que possam ser efetivamente selecionadas”, analisa Letícia.
Outro ponto levantado e muito debatido é a questão geracional: não se trata apenas de estimular vagas para os profissionais sêniores, grupo do qual já fazem parte a população 40+ ou 50+, mas de combater o ageísmo, etarismo ou velhofobia. Na atualidade, as pessoas estão se aposentando cada vez mais tarde devido ao aumento da expectativa de vida deste público que se importa com saúde, longevidade e atividade física e mental.
“O perfil de profissional está mudando e esta é uma tendência preciosa que mostra para a diretoria que os mais experientes podem realizar mentorias com os mais novos e vice-versa. Uma troca saudável entre as gerações e constantes cursos sobre os avanços da tecnologia e da informática são essenciais para que não haja bullying nas corporações – e para que esse público se sinta útil e contribuindo com os conhecimentos adquiridos ao longo de suas carreiras”, diz.
“A sigla ESG está ligada à diversidade na medida em que fala de governança porque o meio em que vivemos está cada vez mais atento se é verdade que as companhias estão preocupadas com responsabilidade social. Daí a urgência dos setores de diversidade dentro da empresa serem mais bem estruturados, de existir profissionais desta área dentro da empresa e não apenas “voluntários”, pontua.
“É um trabalho sério que demanda recursos, planejamento, metas, dedicação, encontros diários, feedbacks. A saúde mental deste profissional que lida com diversidade também precisa ser olhada, precisa saber se ele está sendo valorizado, porque algumas vezes quem assume um cargo ligado à inclusão dentro das empresas já passou por algum tipo de preconceito no passado”, complementa Letícia Rodrigues.
A especialista da Tree finaliza destacando o quanto é essencial as companhias fazerem networking, verem e serem vistas, participarem de fóruns, simpósios, receber selos de acreditação que garantam que desenvolvem um trabalho honesto em DE&I. Tudo isso – e muito mais – auxiliará na transformação de um país mais plural e respeitoso em 2023.