Menos exames de imagem, recomendam especialistas em dor
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Menos exames de imagem, recomendam especialistas em dor

No Brasil, especialistas em saúde musculoesquelética confirmam que há excesso de pedidos de exames de imagem, principalmente ressonâncias magnéticas. O oposto do que as diretrizes científicas atuais mundiais recomendam. Ao sentir uma dor mais intensa nas costas, nos ombros ou em outra região do corpo, as pessoas costumam ir ao pronto-socorro onde, frequentemente, são submetidas a exames e até a procedimentos que, segundo estudos recentes, poderiam ser evitados e são desnecessários. Médicos e fisioterapeutas brasileiros têm se unido para mudar essa prática que eles acreditam ser ineficaz e cara.

Nos Estados Unidos, essa necessidade de mudança inspirou a campanha Choosing Wisely, promovida pela ABIM Foundation (American Board of Internal Medicine Foundation), baseada em pesquisa publicada na Harvard Medical School e Beth Israel Deaconess, que sugere justamente uma revisão da eficiência clínica de determinados exames e tratamentos. 

Segundo estudo publicado recentemente no British Journal Of Sports Medicine, 1 em cada 4 pacientes da atenção primária e 1 em cada 3 pacientes que chegam com dor lombar em serviços de emergência, são submetidos a exames de coluna desnecessários. Apenas os casos considerados graves, conhecidos como bandeiras vermelhas e que representam até 4% desse total, deveriam ser checados através de tomografias ou ressonâncias magnéticas, conforme as melhores práticas preconizadas mundialmente. 

Para o Dr. William Jacobsen, ortopedista preceptor e pesquisador do HC-FMUSP, “há uma questão cultural no país que resulta na solicitação de exames em excesso. Há uma visão coletiva da nossa sociedade de que toda pessoa com dor musculoesquelética necessita de uma ressonância magnética. Em alguns países do mundo, os protocolos de investigação são restritos a quem apresenta sinais de maior gravidade ou dor persistente a fim de evitar exames desnecessários que geram custos proibitivos ao sistema de saúde”, esclarece. 

“Além do gasto igualmente desnecessário, essa prática tende a levar à realização de cirurgias. Estudos observacionais evidenciaram que os pacientes com dor de coluna que fazem ressonâncias desnecessárias têm 50% mais chance de evoluir para uma cirurgia de coluna e mais do que dobram o custo do seu tratamento”, explica Rafael Alaiti, fisioterapeuta especialista em dor, mestre e Ph.D pela Universidade de São Paulo, e CEO da Tato, startup de fisioterapia e gestão de cuidado, voltada para o atendimento de empresas, operadoras e autogestoras de saúde. 

Qual é a razão do excesso de exames?

“A pessoa sente uma dor na lombar, por exemplo, e, dependendo da intensidade dessa dor, vai ao pronto-socorro ou a um ortopedista. Invariavelmente, nestas situações, os profissionais solicitam exames de imagem. As diretrizes mundiais, contudo, recomendam que se procure primeiro um médico generalista, como o clínico geral”, explica Rafael, que também é professor, pesquisador e palestrante em saúde musculoesquelética. “O atendimento primário do profissional generalista, que pode ser um clínico geral, médico da família ou um fisioterapeuta, deve prever a triagem, a partir da qual seriam encaminhados somente os casos realmente necessários tanto para consultas com o especialista como para a realização de qualquer exame”, completa.

De fato, cerca de 60% dos pacientes com dor musculoesquelética crônica relatam buscar médicos especialistas como profissionais de primeiro contato no Brasil, de acordo com a pesquisa . Os ortopedistas (25%) foram os mais procurados para o manejo da dor crônica, seguidos por especialistas em dor (14%) e clínicos, como reumatologistas (12%), neurologistas (10%) e clínicos gerais. Aproximadamente 8% dos entrevistados relataram não ter acompanhamento médico.

Quando passar por exames de imagem

Segundo o Dr. William, “pacientes com a presença de sinais de alarme como dor associada a febre, perda de peso, déficit neurológico, antecedente de câncer ou imunossupressão, necessitam de cuidado médico precoce para investigação e tratamento. Já aqueles sem a necessidade de suporte analgésico maior, com ausência de sinais de alarme e que não tenham dores que persistam por longos períodos, podem ser tratadas sem essa investigação adicional”.

Embora a dor lombar inespecífica, sem causa detectável, seja responsável pela maioria dos episódios de dores nas costas, a indicação de exames de imagem são recomendadas pela literatura científica apenas para os pacientes cujos casos são considerados na saúde como bandeiras vermelhas, como suspeita da existência de tumores ou fraturas da coluna vertebral, deficiências neurológicas como radiculopatia, síndrome da cauda equina, infecção ou aneurismas da aorta, que representam, segundo Rafael Alaiti,”entre 1% a 4% dos casos”.

“Sentir dor não é indicativo para se fazer exames de imagem”, declara o CEO da healthtech e William acrescenta que, para reduzir o número de solicitações de exames e também o de cirurgias desnecessárias, deve-se procurar o hospital apenas em casos de urgência.

Fisioterapeuta pode ser o primeiro contato 

Um primeiro passo em direção à solução dessa situação relacionada ao excesso de exames, seguindo a lógica dos dois especialistas e a tendência mundial, seria, portanto, uma mudança cultural a começar pelo profissional de atendimento primário às pessoas com dores e outras condições musculoesqueléticas. 

O ortopedista acredita que “a fisioterapia pode ajudar na redução da solicitação destes exames quando consegue, de forma segura e eficiente, reduzir a queixa clínica num prazo de tempo razoável de modo que o exame de imagem deixe de ser necessário”, esclarece. Algo que, segundo Rafael Alaiti, já é realidade, “com resultados clínicos comprovados e menores custos” em países como EUA, Nova Zelândia, entre outros. 

No Brasil, de acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), o fisioterapeuta é um profissional de primeiro contato, podendo avaliar, fazer diagnóstico fisioterapêutico, prescrever e executar tratamentos, e dar a alta ao paciente ou encaminhá-lo a outros profissionais, se necessário.