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Catarata: cirurgia reduz riscos de demência em idosos

Jundiaí, São Paulo 31/1/2022 – Com a correção da catarata, o idoso ganha mais qualidade de vida. Ele volta a ter a visão que tinha aos 40 anos de idade. E isso mexe com o íntimo da pessoa

Segundo estudo, procedimento que corrige dano ocular diminui em 30% as chances de perdas cognitivas; especialista explica que o benefício se deve à melhoria na qualidade de vida proporcionada pela recuperação da visão.

Um dos motivos para piora do bem-estar entre idosos é a catarata, doença dos olhos que torna a visão opaca e que tem como principal causa o envelhecimento. A cirurgia que corrige o problema leva apenas 15 minutos, mas pode trazer grandes benefícios. Além de proporcionar a retomada da visão, ela também pode evitar o surgimento de demência e do mal de Alzheimer. É o que mostra um estudo publicado na revista científica “JAMA Internal Medicine” em dezembro de 2021.

De acordo com o artigo recém-publicado, o procedimento diminui em 30% o risco de perda de funções mentais na população idosa. Cientistas da Universidade de Washington investigaram a associação entre demência e outros problemas de saúde em cerca de 3 mil adultos acima de 65 anos. E a cirurgia de catarata foi a intervenção médica mais fortemente associada com a redução dos riscos de desenvolvimento de problemas cognitivos típicos da velhice. 

Ainda que não consigam apontar de forma definitiva como a cirurgia leva à diminuição das chances de demência, os pesquisadores possuem boas hipóteses. A proteção contra a perda cognitiva estaria ligada justamente à melhoria de vida proporcionada pelo funcionamento da visão. Isso porque o fato de poder enxergar faz com que o idoso possa manter atividades que beneficiam o funcionamento do cérebro.

O oftalmologista Vitor José Samadello, do Hospital dos Olhos de Jundiaí, explica que a perda da visão entre idosos tem como efeito uma série de problemas, inclusive mentais. “Com a correção da catarata, o idoso ganha mais qualidade de vida. Ele volta a ter a visão que tinha aos 40 anos de idade. E isso mexe com o íntimo da pessoa, com o psicológico. O idoso fica mais ativo. Pode, por exemplo, fazer palavra-cruzada, um exercício benéfico para evitar o surgimento precoce de Alzheimer”, diz o médico.

De acordo com a pesquisa realizada nos EUA, outra possível explicação para o efeito da correção da catarata sobre a saúde mental está no aumento da recepção da luz azul pelos indivíduos que fazem a cirurgia. Com isso, o ciclo do sono, que responde à luz azul, torna-se mais regular. 

Os benefícios da cirurgia, contudo, não param por aí. O idoso que volta a enxergar bem após a correção da catarata fica menos suscetível a problemas vasculares e garante autonomia para realizar as atividades do dia a dia, diz Samadello.

“O idoso com catarata não sai da cama, e a falta de movimentação causa problemas. E quando consegue se movimentar, pode sofrer quedas e fraturas. Tudo isso tem ainda um custo social enorme para a família, que precisa cuidar desse idoso. Até a longevidade é menor quando se tem catarata. Há uma série de outros motivos para operar catarata, não é só para a prevenção do Alzheimer”, afirma.  

Catarata é a cirurgia mais procurada no SUS

A visão fica nublada, como se houvesse uma névoa diante dos olhos. Surgem dificuldades para atividades do dia a dia, como dirigir, ler e costurar. Após algum tempo, a névoa presente na visão aumenta, a pessoa começa a ver apenas vultos, podendo ficar cega. Esses sintomas da catarata ocorrem por causa da lesão do cristalino, a lente que fica atrás da íris nos nossos olhos e cuja transparência permite que os raios de luz cheguem até a retina para formar imagens. Tendo como principal causa o envelhecimento, a catarata pode também ser congênita ou provocada por traumas, diabete e uso excessivo de colírios com corticoides na fórmula. 

Todo esse mal pode ser evitado com uma cirurgia que retira o cristalino danificado do olho e coloca no lugar uma lente intra-ocular que devolve a visão normal. A técnica, que no passado era complexa, hoje é realizada em poucos minutos, liberando o paciente para retomar suas atividades de maneira rápida. 

“Há 30 anos, a cirurgia de catarata demorava três horas, exigia três dias de internação, era feita com anestesia geral, o médico precisava dar 12 pontos no olho. A evolução foi absurda. Atualmente, a cirurgia não exige internação, é feita em 15 minutos, com anestesia local e sem nenhum ponto”, diz Samadello. O oftalmologista também explica que a lente intraocular colocada no lugar do cristalino corrige problemas para enxergar de longe e de perto. “É como uma lente de óculos multifocal, mas colocada dentro dos olhos”, completa. 

Acompanhando o avanço na técnica cirúrgica, ocorreu o aumento na demanda pela correção da catarata. O procedimento já figura como o mais solicitado no SUS (Sistema Único de Saúde). O tratamento do problema tem auxiliado milhares de idosos. De acordo com o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), a catarata tem uma prevalência de 73,3% na população adulta acima dos 75 anos e de 47,1% no grupo de 65 a 74 anos.

“A demanda nesses últimos anos aumentou porque a expectativa de vida aumentou e as pessoas idosas estão mais socializadas. Elas se comunicam mais, viajam mais, conversam mais, usam mais o celular. A necessidade de enxergar é essencial para tudo isso. E a catarata, quando embaça a vista, afeta a qualidade de vida”, afirma Samadello.

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