Niterói, RJ 23/11/2021 –
No mês da prematuridade, especialista alerta para a principal causa de mortalidade infantil no Brasil
Novembro é o mês de conscientização e alerta para a prematuridade, um problema de saúde pública global que atinge 15 milhões de crianças no mundo. No Brasil, esta é a principal causa de mortalidade infantil, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) de 2019 apontam que 12% dos partos brasileiros são prematuros, ou seja, cerca de 360 mil crianças, por ano, nascem antes de completar a 37ª semana de gestação, quase mil bebês por dia.
Segundo o dr. Leonardo Nese, neonatologista e coordenador do Serviço Materno-Infantil do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), em outubro deste ano, 7,8% dos partos realizados no hospital foram prematuros. “São necessárias, aproximadamente, 40 semanas de gestação para o completo desenvolvimento da criança. Bebês que nascem antes da 37ª semana são considerados prematuros, mas há casos em que o parto ocorre antes da 28ª semana de gravidez, e esses recém-nascidos são considerados prematuros extremos e necessitam de cuidados intensivos por um tempo prolongado, até que se atinjam a maturidade e a formação dos órgãos fora do útero”, explica Nese.
Alguns fatores podem influenciar o nascimento precoce do bebê, como aconteceu com Amanda Mella dos Reis, de 33 anos. Ela conta que, durante o pré-natal, mais precisamente na sexta semana de gestação, detectou um hematoma no útero, o que classificou sua gravidez como de risco e provocou diversos episódios de sangramento, levando-a a priorizar o repouso no período gestacional.
Mesmo com todos os cuidados e bons resultados nos exames pré-natais, Amanda teve amniorrexe prematura – quando a bolsa se rompe espontaneamente – na 23ª semana de gestação e ficou internada no CHN cerca de 20 dias. Durante a internação, ela sentia contrações frequentes, até que, no dia 1º de junho deste ano, Aimée Vitória dos Reis Penteado nasceu ali mesmo, no quarto do hospital, pesando apenas 525 gramas, na 25ª semana de gravidez.
A recém-nascida foi levada imediatamente para a UTI Neonatal do hospital, onde está internada até o momento. Depois de cinco meses, Aimée segue evoluindo bem: pesa 3.930 gramas, está aprendendo a mamar e deve receber alta hospitalar em breve. “A recém-nascida teve todo o desenvolvimento fora da barriga da mãe e recebeu total assistência em nossa UTI Neonatal. Com ganho de peso de mais de sete vezes, a bebê evoluiu muito bem”, confirma Leonardo Nese.
“Dentro de mim sempre acreditei muito nela, sinto muita fé. Acredito que seja fundamental para ela, mesmo com tudo isso, eu chagar à UTI Neonatal e falar com ela: ‘filha, você é muito bonita, você é muito forte’; falamos palavras positivas para dar força a ela”, conta Amanda.
Causas da prematuridade
O dr. Leonardo Nese explica que a prematuridade é um fenômeno multifatorial e, em muitos casos, é difícil identificar uma razão exata.
“Existem diversos fatores que podem resultar no nascimento prematuro. A ausência dos cuidados de pré-natal é um dos principais. Além deste, tabagismo; alcoolismo; estresse exacerbado; infecções urinárias; obesidade; diabetes gestacional; pré-eclâmpsia – condição em que a pressão arterial da gestante aumenta –; idade materna; má-formação fetal e gravidez de múltiplos são causas frequentes para o parto prematuro”, detalha Nese.
Alguns sinais também podem identificar que a gestante está entrando em trabalho de parto prematuro. O sintoma mais claro da prematuridade é o rompimento precoce (antes de 37 semanas) da bolsa amniótica.
Outros sintomas:
- contrações frequentes;
- mudanças na secreção vaginal;
- pressão pélvica;
- dor lombar;
- cólicas abdominais.
Para Nese é possível reduzir a taxa de prematuridade, e o segredo está no bom acompanhamento médico durante o pré-natal: “O pré-natal inicia-se antes da descoberta da gravidez ou no momento em que ela é confirmada. As consultas e os exames, bem como o monitoramento médico constante, são passos necessários para evitar complicações futuras. Contudo, se ainda assim o bebê nascer prematuro, não significa que vá haver algum problema de saúde. Com o avanço da medicina neonatal, as taxas de sobrevida aumentaram, juntamente com as chances de desenvolvimento pleno”, comenta o especialista.
Como é o caso da pequena Aimée, que, apesar da prematuridade extrema, segue em evolução. “Por mais difícil e desafiador que seja ser mãe de UTI, agradeço todos os dias a Aimée estar lá, pois, se assim não fosse, ela não estaria viva. Então, sigo com tristeza, sim, com cansaço, sim, mas feliz e grata por ter minha filha nos braços e vê-la evoluindo bem. Sou muito grata por testemunhar o milagre da vida e da ciência. É algo que sempre falo para as outras mães: transmutar a dor em gratidão e acreditar na força da vida. A vida vem, ela sempre vem. A prematuridade é algo inesperado, e tá tudo bem acontecer o inesperado”, finaliza a mãe Amanda Mella.