2 de abril – Autismo

Especialista responde dúvida sobre o autismo

A pandemia da Covid-19 apresentou mais obstáculos no cotidiano das pessoas com TEA, seja pela mudança de rotina ou até de como enfrentar o luto.  Os pais, professores e terapeutas enfrentam esses desafios em qualquer etapa da vida.

O dia 2 de abril é mundialmente conhecido como o Dia da Conscientização sobre o Autismo. Visa meta esclarecer as pessoas que não conhecem a realidade do TEA de como é importante a inclusão.

O objetivo das ações do dia 2 de abril é reduzir a desinformação e promover mais debates sobre a inclusão.

No decorrer dos anos, com as sucessivas campanhas, cinemas e supermercados, em várias cidades do mundo, já adotam ações inclusivas com “sessão azul” ou um horário e dia em que o mercado abaixa o som das músicas para receber este público TEA.

Bárbara Calmeto

A neuropsicóloga, Bárbara Calmeto, que integra a equipe de atendimento do Autonomia Instituto, especializado em atendimento terapêutico para crianças, adolescentes, adultos e idosos com transtornos mentais, como o autismo, responde questões gerais deste tema.

É mito ou fato que crianças com autismo têm mais dificuldades para lidar com mudanças? Por quê?

De maneira geral, é um fato. Isso ocorre porque as crianças com autismo têm dificuldades de prever situações que vão acontecer e a rotina traz uma previsibilidade de conforto. A criança já sabe o que vai acontecer, como vai acontecer, com quem e onde e com isso, já se organiza das ações que precisará ter naquela situação.

A rotina é importante para todas as crianças, principalmente com autismo, mas nas intervenções é preciso estimular as variações e as flexibilidades porque no dia a dia, acontecem muitos imprevistos que podem desencadear crises nas crianças com autismo.

2. Como abordar o Novo Normal com essas crianças?

Penso que será preciso reorganizar as prioridades educacionais das crianças com autismo e trabalhar nas lacunas do processo ensino-aprendizagem para que elas tenham um desenvolvimento mais funcional. 

Além disso, precisamos treinar as crianças ao uso de máscaras, ao distanciamento social e às novas práticas de segurança e higiene que estamos vivenciando desde 2020. 

Uma dica é usar as estratégias visuais para esse ensino de novos comportamentos. Colocar fotos ou imagens do comportamento adequado que espera-se da criança, o que ela deve e o que ela não pode fazer, explicar com vídeos sobre o Coronavírus e os novos cuidados.

A dica visual é a que mais temos resultados com crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista e nesse momento, precisamos usar de maneira abundante. As histórias sociais através de desenhos também ajudam muito porque ilustram situações do cotidiano, realizadas bem passo a passo e explicadas para a criança de maneira objetiva e simples.

3. Quais mudanças são mais difíceis para uma criança autista lidar? Ou qq mudança gera um problema?

Nem toda criança com autismo tem problemas de lidar com mudanças, mas é um dos sintomas de pessoas que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista. Normalmente, o mundo é algo confuso de ser entendido para essas pessoas e a rotina traz uma previsibilidade que ocasiona conforto. Por isso, manter certos rituais é uma estratégia para garantir que a criança com autismo funcione regulada nas atividades que precisa executar. 

Vale ressaltar que nas terapias, precisamos trabalhar certa flexibilidade cognitiva e treinar situações de imprevisto para que a criança ganhe repertório de lidar com situações novas e inesperadas.

4. É possível mudar essa situação com algum tipo de exercício ou terapia? Fale sobre isso.

Com certeza esse é um dos focos das terapias cognitivo-comportamentais, estimular as funções executivas das pessoas com autismo. A flexibilidade cognitiva, a resolução de problemas, o planejamento e o controle inibitório são muito importantes para uma vida mais fluida da pessoa com TEA. Ela precisa treinar como resolver situações do cotidiano e imprevistos que acontecem no nosso dia a dia. A criança com TEA precisa aprender a conversar e criar linhas de pensamento que reestruturem novas rotinas mais flexíveis no cérebro dela.

5. Como lidar com a criança autista quando ela vai crescendo? O dia a dia com os amigos, as festinhas, namoros etc.

O desenvolvimento infantil é uma fase de muitos desafios para todas as crianças, inclusive na fase da adolescência. Para adolescentes com TEA mais ainda porque as demandas sociais são maiores e o bullying começa a acontecer. Para minimizar os danos, é importante buscar uma rede de apoio empática e tolerante com amigos e familiares de amigos que consigam compreender e lidar com as necessidades específicas desse jovem. Além disso, o adolescente deve treinar em suas terapias estratégias de habilidades sociais e vida funcional para que tenha sucesso nas atividades diárias.

6. Como ajudar a desenvolver áreas de interesse alheias ao hiperfoco?

Normalmente, as pessoas com autismo têm algum hiperfoco, ou seja, algum assunto de maior interesse dele que acaba sendo muito estimulado pela família comprando mais itens desse objeto (ex.: carrinhos, dinossauros, robôs). O interessante é ampliar o foco de atenção para mais objetos e buscar uma variação das atividades de brincadeiras que essa criança faz. 

Em terapia, pegamos esse hiperfoco (grande interesse do paciente) para iniciar as atividades e fazer vínculo, fazer atividades funcionais e aos poucos vamos buscando a variação por meio de pareamento de outros objetos com esse objeto de preferência. O foco é ampliar variação de itens e frequência de brincadeiras funcionais.

7. Há alguma forma dos pais prepararem seus filhos autistas para lidarem melhor com mudanças quando se tornarem adultos?

Sim, por meio da estimulação prática de flexibilizações no cotidiano, desde variar o elevador que entra até imprevistos do dia a dia. E usar pistas visuais para ajudar na previsibilidade do que vai acontecer. É importante também observar o que acalma (autoregula) a criança e usar em situações necessárias. Podemos usar slimes, spinners, bolinha de sabão, massagens de pressão, bexiga etc.

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