Projeto TechGirls chega à cidade de São Paulo para capacitar mulheres em estado de vulnerabilidade social para mercado de TI
Cidade Dutra é o bairro escolhido para receber a primeira escola voltada ao ensino de tecnologia afetiva, que visa promover inclusão digital e economia circular
Depois de formar mais de 550 mulheres na região metropolitana de Curitiba e no interior do Distrito Federal, o projeto Tech Girls – negócio de impacto socioambiental que atua em educação tecnológica, inserção digital e tratamento do lixo eletrônico – chega na capital paulista. O objetivo é reduzir o déficit de mulheres capacitadas para a área de tecnologia da informação (TI), por meio do curso intitulado “Mulheres e Tecnologia”, com aulas gratuitas a partir de 23 de agosto, às terças e quintas, das 14h às 17h, na av. Senador Teotônio Vilela, 1076, sala 9, Cidade Dutra. As interessadas podem se inscrever pelo site www.techgirls.com.br
Localizado no extremo sul da cidade de São Paulo, o bairro é o escolhido para receber a sede do Tech Girls pela alta quantidade de mão-de-obra disponível no local após o fechamento de grandes indústrias da região.
Além dos cinco módulos já existentes (Oficina Arte Lixo Eletrônico, Empreendedorismo Digital, Manutenção de Notebook, Princípios de lógica de Programação e Matemática, e Desenvolvimento de Software), o projeto incluiu uma novidade para as alunas do Cidade Dutra: a classificação e o processamento em lixo eletrônico.
Gisele Lasserre, desenvolvedora de software e fundadora do Tech Girls, explica que ao longo da jornada de capacitação as alunas do Tech Girls aprenderão desde a função mais básica, como ligar um computador, até a lógica de programação (software), passando pelo aprendizado de consertos de equipamentos (hardware) e pela transformação do lixo eletrônico em bijuterias e acessórios chamados de bijouxtechs – feitos com componentes de computador como microprocessadores, placas de memória RAM e teclados em desuso, por exemplo. Ao final do curso, que tem duração de três meses, todas as alunas de baixa renda que concluírem a trilha com bom desempenho receberão um computador recuperado por elas mesmas. O objetivo é que elas continuem no caminho do conhecimento aprimorado em tecnologia e coloquem em prática novos negócios digitais, como a venda pela internet.
Isso é relevante porque desde 2020, início da pandemia, a participação feminina na força de trabalho em todos os setores vem sofrendo queda. Atualmente, elas representam 26,7% do total de tecnólogos – o que equivale a uma queda de 2,1% nos dois últimos anos e representa um reverso após cinco anos de expansão, segundo relatório da AnitaB.org, uma organização sem fins lucrativos global focada em gênero interseccional e paridade salarial em tecnologia. O documento mostra também que houve queda de 1,8% em todos os níveis de carreira relacionados à tecnologia e que, comparadas aos homens, as mulheres são menos propensas à promoção de carreiras e, por isso, estão abandonando a área de atuação.
Regulamentação Ambiental
Além de proporcionar a educação tecnológica e a inclusão socioeconômica, o projeto Tech Girls atende a legislação vigente quanto à coleta e destinação dos resíduos sólidos, o que o torna apto para emissão de declaração para empresas, via Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR). Para viabilizar esse certificado, o projeto recebeu consultoria ambiental da empresa Interbio, que readequou cada etapa do micro processo de reciclagem.
No Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados são enviados para esse processo, índice muito abaixo de países com a mesma faixa de renda e grau de desenvolvimento econômico como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem, segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA). Em relação aos países desenvolvidos, o caminho a percorrer é ainda mais longo. Na Alemanha, por exemplo, o índice de reciclagem alcança 67%.
“Embora o Brasil tenha grande potencial para aumentar a reciclagem, diversos fatores mantêm esses índices estagnados, a começar pela falta de conscientização e de engajamento do consumidor na separação e no descarte seletivo de resíduos. Além disso, é preciso que autoridades públicas permitam que esses materiais retornem para o ciclo produtivo, com potencial de recuperação, pois a falta de reciclagem adequada do lixo tem gerado uma perda econômica significativa para o país”, explica Gisele Lassere.
Levantamento feito pela Abrelpe, em 2019, mostrou que somente os recicláveis que vão para lixões levam a uma perda de R$ 14 bilhões anualmente, o que poderia gerar receita e renda para uma camada da população que trabalha com essa atividade. “E o projeto Tech Girls está preparado para apoiar esse público e fazer a diferença para a sociedade como um todo”, conclui a fundadora.
Sobre o Tech Girls
Criado em 2017, o Tech Girls é um negócio de impacto socioambiental focado na empregabilidade em tecnologia e geração de renda. Por meio da Metodologia de Ensino Afetivo em Tecnologia®, que alia afeto ao aprendizado de software e hardware, o projeto conta com aulas desenhadas para facilitar o aprendizado das mulheres, desde o nível inicial até a formação em hard skills tecnológicos. Com isso, capacita e torna acessível o conhecimento em tecnologia, auxiliando na criação de negócios digitais, autonomia para o uso pleno de computadores, celulares e acesso ao mercado de trabalho em TI. Recupera notebooks obsoletos por meio de capacitação de manutenção dos equipamentos, realizados pelas próprias alunas que ao concluírem a jornada de imersão digital, levam o notebook para casa, para continuarem seu ensino atuarem profissionalmente, gerando renda e emprego. As sucatas deste lixoeletrônico são transformadas em Bijouxtechs ®.