Associações de juízes promovem webinário sobre os 10 anos do Estatuto da Igualdade Racial
Em sua 4ª edição, o Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros (ENAJUN) foi realizado de 19 a 23 de outubro, com transmissão no Canal do YouTube da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil). Este evento também marca o lançamento do 1º Fórum Nacional de Juízas e Juízes contra o Racismo e todas as formas de Discriminação (Fonajurd).
As presidentes da AMB, Renata Gil, da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Noemia Porto; e a juíza Flávia Martins de Carvalho (TJSP/diretora da AMB de Promoção da Igualdade Racial) falaram na abertura os problemas que ainda são bem graves no Brasil e mundo, quando o tema é o racismo. Foram citadas situações de mortes em maior número das pessoas negras nas capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, considerando que este cenário é comum também nos demais Estados brasileiros. Também refletiram sobre a composição racial do judiciário brasileiro, “branco, masculino e heteronormativo”, explicou Noemia Porto, considerando ainda que este grupo “não é capaz de retratar e bem representar o pluralismo, a complexidade e as múltiplas formas de vivenciar os direitos de cidadania na sociedade brasileira”.
No mesmo dia, Thiago Amparo e Lívia Sant’Anna Vaz falaram sobre os 10 anos do Estatuto da Igualdade Racial.
Thiago Amparo lembrou que o processo histórico é importante observar a questão racial foi tratada a partir do incentivo ao branqueamento racial se obter a ascensão social.
Lívia Sant’Anna comentou sobre a questão do racismo por dentro do sistema da Justiça, separando os períodos históricos.
Abaixo você pode assistir o painel completo com as autoridades que abriram os eventos e os dois palestrantes.
No dia 20, Felipe Estrela e Wallace Corbo debateram sobre “As Diversas Faces da Discriminação Racial”.
Felipe Estrela destacou “mesmo com uma década do Estatuto da Igualdade Racial, negros e negras enfrentam diuturnamente as repercussões sociais, econômicas, políticas e culturais do racismo”.
Wallace Corbo ressaltou que o racismo no Brasil por ser estrutural também é cotidiano. “Pessoas negras vivem o racismo diariamente. Não existe racismo velado no Brasil, porque é muito exposto e nada velado”.
Abaixo, as palestras completas.
No terceiro dia, 21 de outubro, Adilson Moreira e Lia Vainer Schucman apresentaram os conceitos de “Negritude e Branquitude”.
O debate sobre negritude e branquitude foi abordado sob aspecto histórico. Adilson Moreira recordou casos nos EUAs de negros que buscaram a Justiça não foram amparados porque não eram considerados cidadãos iguais socialmente.
A professora Liz Schucman falou sobre o aprendizado de ser branco, do lugar de super valorização e do significado de superioridade. “A raça construiu este lugar de vantagem, esta zona de ser que se contrapõe a zona do não ser”. Sua palestra demonstrou diversos fatos do cotidiano que a cor da pele determina funções sociais.
Confira as palestras: https://www.youtube.com/watch?v=cieh4n-RE_s
Em 22 de outubro, Carla Akotirene e Katiuscia Ribeiro explanaram sobre “Interseccionalidade e Epistemicídio”.
Carla Akotirene fez um relato sobre aspectos sociais, culturais e educacionais que colocam o negro fora do radar da sociedade. A inexistência de autores negros ou de outros profissionais nas diversas áreas de produção.
Katiuscia Ribeiro explicou o significado do epistemicídio, a partir da construção de uma sociedade correta branca, na qual coloca qualquer outro no lugar de erro. Ainda completou sua palestra falando deste modelo de sociedade ocidental racional, que zoomorfiza os corpos negros.
Confira no vídeo este encontro completo.
No quinto dia do evento, Edinaldo César Santos Junior agradeceu as participações dos juízes que declamaram poesias de autores negros em todos os dias, bem como todos os participantes. Falou sobre a necessidade de ampliar o espaço de debate, que este evento online, ao lado de diversas entidades de magistrados, permitiu para todos.
Neste encerramento falou a francesa Alexandra Baldeh Loras sobre “Racismo cotidiano e trauma de ser o outro ou a outra”. Iniciou sua palestra lembrando que o Brasil é conhecido no exterior como um país de ampla miscigenação racial, mas a realidade é bem outra.
Confira:
Fonte: ETC Redação